27/05/13

A greve de fome em Guantánamo e as promessas de Obama


26/05/2013
A greve de fome na prisão passa de 100 dias. Os Estados Unidos, e o presidente Obama, estão a lidar da pior forma possível com a questão. Sabe-se que 90% dos detidos nunca foram acusados oficialmente de crime algum. Após cinco anos de governo, passou da hora de o presidente cumprir as suas promessas de campanha. Por Steven Hsieh, da AlterNet.
 Sexta-feira da semana passada (17) marcou o 100° dia desde o começo da greve de fome na Baía de Guantánamo, que recapturou a atenção internacional sobre a prisão que o presidente Obama prometeu fechar quando tentava se eleger, cinco anos atrás.
Autoridades militares disseram que 102 dos 166 prisioneiros estão a participar da greve. Advogados dos prisioneiros dizem que esse número está próximo de 130.
Desde que a greve de fome começou há 100 dias, grupos internacionais, incluindo o Parlamento Europeu, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, e várias nações com prisioneiros em Guantánamo pressionaram a administração Obama a soltar os detidos ou fechar a prisão.
Aqui estão quatro dos fatos mais perturbadores sobre a situação em Guantánamo.

1. A tortura da alimentação forçada
Trinta dos 166 prisioneiros mantidos em Guantánamo estão a ser forçadamente alimentados - uma prática que é considerada tortura e violação da lei internacional pelo gabinete de direitos humanos da ONU. No início da semana, a ACLU (sigla em inglês para "União Americana das Liberdades Civis"), e também um número considerável de organizações para os direitos humanos, enviaram uma carta para o secretário de Defesa, Chuck Hagel, insistindo no fim das alimentações forçadas em Guantánamo.
Enquanto os militares dizem que seria "desumano" deixar os prisioneiros morrerem de fome, vários grupos médicos e de direitos humanos discordam.
"Sob estas circunstâncias, seguir adiante e alimentar as pessoas à força não é apenas uma violação ética, mas pode ser elevada ao nível de tortura ou maus-tratos", disse Peter Maurer, coordenador do Comité Internacional da Cruz Vermelha.
O procedimento militar de alimentação forçada envolve empurrar um tubo no nariz do prisioneiro, através dos seios paranasais, garganta e, eventualmente, estômago. O processo inflige muita dor e desconforto. De acordo com uma análise de documentos militares feita pela Al Jazeera, prisioneiros são algemados e forçados a "permanecerem sentados vestindo máscaras sobre as suas bocas por cerca de duas horas" enquanto um suplemento nutricional é empurrado para os seus estômagos. "No fim da alimentação, o prisioneiro é removido da cadeira e levado a uma 'cela seca' sem água corrente", a Al Jazeera conta. "Depois, um guarda observa o prisioneiro por 45-60 minutos 'para vigiar qualquer indicação de vómitos ou tentativas de induzir vómitos.' Se o prisioneiro vomitar, o prendem novamente na cadeira."
2. Supostas tentativas de "desintegrar" os grevistas
Surgiram várias denúncias de que os guardas de Guantánamo estão a maltratar os grevistas com o objetivo de "desintegrá-los". Advogados do prisioneiro iemenita Musaab al-Madhwani dizem que os guardas perseguem os grevistas negando-lhes água potável, forçando-os a beber água não potável de torneiras, e mantendo as suas celas em temperaturas "extremamente geladas", relatou a Agence France-Presse.
Outro advogado contou ao Russia Today que guardas estão a retirar os prisioneiros em greve dos espaços de convívio, forçando-os a viver em celas individuais para enfraquecê-los mentalmente.

3. Mais da metade dos prisioneiros de Guantánamo tiveram sos eus casos esclarecidos para que sejam libertados. Noventa por cento nunca foram acusados de crime algum

Dos 166 prisioneiros de Guantánamo, 86 já tiveram os seus casos esclarecidos para que sejam libertados, mas barreiras burocráticas e legais ainda os mantêm presos por tempo indefinido. Em primeiro lugar, o Congresso impôs restrições às transferências dos presos, requisitando provas de que os possíveis transferidos nunca ofereceriam nenhum tipo de ameaça à segurança nacional dos EUA no futuro. Em conferência de imprensa no último mês, o presidente Obama reiterou este facto, dizendo que ele "iria necessitar ajuda do Congresso." Ainda, como vários analistas apontaram, o Congresso também garantiu a Obama o poder de transferir prisioneiros, um poder que ele nunca exerceu.
O que complica o processo são 56 iemenitas detidos em Guantánamo. Como explicou Alex Kane, o Iémen é "um poderoso aliado dos EUA que também possui problemas com a Al-Qaeda na Península Árabe, um grupo que planeou ataques contra os EUA. Depois de um plano terrorista que supostamente teve origem no Iémen ter sido intercetado, a administração Obama decidiu impedir a repatriação dos prisioneiros para o Iémen."
4. Nenhuma possibilidade de sair senão num caixão
A greve de fome iniciou-se como uma resposta ao maltrato dos objetos pessoais, como Alcorões, dos prisioneiros, cometidos pelos guardas da prisão. Mas muitos analistas, organizações e prisioneiros apontaram que isto foi apenas a gota de água. A greve representa a frustração dos prisioneiros por serem mantidos longe das suas famílias em condições desumanas, alguns detidos por mais de 11 anos.
"Estes homens não estão a passar fome para que se tornem mártires... Eles fazem isso porque estão desesperados," declarou Wells Dixos, um advogados que representa 5 prisioneiros de Guantánamo. "Eles estão desesperados para ficarem livres de Guantánamo, eles não veem outra alternativa que não seja sair num caixão."
Samir Naji al Hasan Moqbel, explicou, numa conversa de telefone publicada na página de opinião do The New York Times, que a greve de fome é conduzida como um último recurso:
“A situação agora é desesperadora. Todos os prisioneiros estão a sofrer profundamente... eu já vomitei sangue.
E não há previsão de fim para o nosso aprisionamento. Negarmo-nos a comer e a arriscar a vida todos os dias é a escolha que fizemos.
Eu só espero que, por causa da dor que estamos a sofrer, os olhos do mundo se voltem para Guantánamo antes que seja tarde.”
*Steven Hsieh é assistente editorial do site AlterNet e escritor. Para segui-lo no twitter @stevenjhsieh
Tradução de Roberto Brilhante.
Artigo publicado no site da Carta Maior.

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